O que seria do tráfego marítimo sem o farol? E dos faróis sem os faroleiros?
Os faroleiros não são militares nem civis – são, militarizados, uma mistura imprescindível ao tráfego marítimo. Já não existem em quantidade como dantes, dantes eram muitos os olhos gigantes que marcavam, dirigiam e avisavam os navegantes no mar. Mas ainda há faroleiros que vivem para auxiliar as embarcações de escassos meios electrónicos de navegação. E não só.
Como é a vida em um farol?
Os faroleiros são nómadas forçados: de quatro em quatro anos metem-se ao mar, enxoval e família debaixo do braço. Num passado bem recente, no tempo do visionário falhado Vítor Gaspar, existiam em Portugal 110 faroleiros. Profissão solitária, continua a ser muito importante para o tráfego marítimo. Há trinta anos seria, talvez, as regalias económicas que moviam o desejo de acesso à profissão. Mas isso era antes.
Rotatividade incompreendida
Que sentido faz, perante um posto de trabalho de difícil adaptação no âmbito do tráfego marítimo, um faroleiro ter de sair do seu posto ao fim de quatro anos? O subchefe Amaral, de 58 anos, está no cabo da Roca há mais de oito e vive na esperança de conseguir manter-se no farol até ao fim da carreira já próxima sem contar, na altura, com o aumento da idade da reforma. Pois.
O sentido, assegura o director de faróis, é o da equidade e principalmente o da melhoria contínua em termos de sistemas de faróis no tráfego marítimo. Há sempre a outra perspectiva.
O tráfego marítimo por um farol
Hoje os faroleiros têm tudo centralizado em computador. Mas antes, os faroleiros apaixonados pelo mar e sentinelas no tráfego marítimo, socorriam pescadores e visitantes, soldavam e arranjavam motores ou mudavam velas a barcos; os faróis de então eram a carvão e a gás e tudo, mesmo tudo, da porca ao parafuso, passando pela alvenaria, era fabricado no farol pelo faroleiro.
Mas não há faroleiro que não saiba limpar, polir, pintar, forjar – são assim os que fazem do tráfego marítimo, sinaleiros no mar, a sua vida.
Dias contados?
Todos os faroleiros se recusam a aceitar que os faróis tenham os dias contados – mesmo com o surgimento das novas tecnologias que navegam no tráfego marítimo. A razão é simples: e os acidentes marítimos, muitos deles com embarcações a entrar por terra dentro, não possuem GPS? Esta expressão irónica e desfiadora reveste-se de uma narrativa interessante, não lhe parece?
Ademais, a missão dos faroleiros portugueses vai muito além das águas nacionais. Saiba que o governo tem acordo com outros países, como, por exemplo, São Tomé e Príncipe ou Moçambique que pediram a Portugal apoio técnico para ajudar a colocar em acção as respectivas redes de assinalamento marítimo entretanto destruídas pela guerra.
É função dos faroleiros, no âmbito do tráfego marítimo, fazer acções de manutenção e de formação do pessoal da guarda costeira nos países acima mencionados – e vice-versa.