Viajar de comboio? Escolha a Estação de S. Bento!
A Estação de S. Bento, no Porto, é uma excelente opção de partida ou de chegada para quem aprecia beleza enquanto espera. Poderá ter sido mesmo esta estação o argumento para o povo contrariar, com o quem espera sempre alcança, o desespero da espera. Porquê? Porque na Estação de S. Bento há azulejos, datados do início do século vinte, pintados de história e repletos de beleza que avivam a curiosidade por quem lá repete os passos mesmo antes de apanhar o comboio. Jorge Colaço, o azulejador artista mais popular em Portugal da época, sabia disso.
A viagem de comboio começa antes
Os azulejos azuis e brancos, as cores são sábias nisso de fazer parelha, cobrem uma superfície de cerca de 551 metros quadrados e representam pedaços da história do norte: o Torneio de Arcos de Valdevez, a apresentação de Egas Moniz com os filhos ao Rei Afonso VII de Leão e Castela, no século doze, a entrada de D. João I e de D. Filipa de Lencastre no Porto, em 1387, e a Conquista de Ceuta em 1415.
Depois, no átrio, uma faixa colorida conta-nos a história dos transportes em Portugal.
Eu disse que a adrenalina da viagem começava, na Estação de S. Bento, antes de entrar no comboio!
As margens do Rio Vez,
o rio mais lindo que o universo já fez, estão lá pintadas a molhar-nos o olhar: terá sido no início de 1140, na chamada “Veiga da Matança”, nas margens do rio Vez (tributário do rio Lima), próximo a Arcos de Valdevez, que D. Afonso Henriques, após a vitória na batalha de Ourique (1139), rompeu a paz de Tui (1137) e invadiu a Galiza. Em resposta, também nos azulejos, as forças de Afonso VII de Leão e Castela entraram em terras portuguesas e arrasaram os castelos à sua passagem descendo as montanhas do Soajo em direcção a Valdevez. A sorte das armas pesou para o lado português e os cavaleiros leoneses ficaram detidos, tal como reza o código da cavalaria medieval.
Os azulejos da Estação de S. Bento mostram tudo.
Egas Moniz pintado
Na Estação de S. Bento há o cheiro do Condado Portucalense e de Egas Moniz rumo a Toledo, descalço e com um baraço ao pescoço, acompanhado da sua mulher e dos seus filhos, colocando ao dispor do imperador a sua vida e a dos seus, como penhor pela manutenção do juramento de fidelidade de nove anos antes. Diz-se que o imperador, comovido com tanta honra, o perdoou e o mandou em paz de volta a Portucale. Quer saber mais? Esta parte da vida de Egas Moniz é recontada por Camões no Canto III dos Lusíadas (estrofes 35-40).